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Os Franceses não tomam banho !

Ano da França

Rio de Janeiro, Fundação Casa Rui Barbosa, 9-12 de setembro de 2009

São Paulo, Universidade MacKenzie, 15-16 de setembro de 2009

Curitiba, Universidade Federal do Parana, 18 de setembro 2009

Belo Horizonte, Sala Humberto Mauro, 26-27 de setembro 2009

Eu sou brasileiro, tenho ouro/ Acabo de chegar do Rio de Janeiro/ Mais rico do que nunca/ Oh, Paris, Paris!/ Voltei para que você possa roubar/ tudo o que eu roubei no Brasil ... Do personagem da ópera de Offenbach aos heróis negros da Cidade de Deus, passando pela mulher cobiçada da música Maria de Bahia de Ray Ventura, desde o fim do período colonial, o olhar francês sobre o Brasil não escapa nem aos clichês, nem à caricatura. Mas será que o olhar brasileiro sobre a França tem sido mais favorável? Será que ele tem conseguido escapar mais facilmente da influência dos imaginários e dos estereótipos? 

Sob os valores do Iluminismo  e da Revolução Francesa, a França sempre foi pensada, do outro lado do Atlântico, como um modelo de civilização. Percebida como caldeirão de todas as modernidades e como uma matriz essencial do republicanismo a partir de 1889, ela sempre atraiu de maneira natural a simpatia de grande parte das elites brasileiras desde a independência do país. Pintores, escultores, arquitetos, escritores e poetas franceses deixaram sua marca na paisagem cultural brasileira dos séculos XIX e XX e contribuíram para a definição da fisionomia da cidade do Rio de Janeiro, sensível mais que todas as outras ao espírito francês.

Mas tanto na Cidade Maravilhosa quanto em outros lugares, são inúmeros os indícios da presença francesa, cujo exemplo mais marcante continua sendo o Cristo Redentor, símbolo incomparável esculpido pelo artista Paul Landowski em seu ateliê de Boulogne-Billancourt, na cidade de Paris. Também as ciências francesas resplandeceram no Brasil desde o final do século XIX através da figura de médicos como Louis Pasteur, de sociólogos como Roger Bastide, de antropólogos à imagem de Claude Lévi-Strauss, de historiadores como Henri Hauser e Fernand Braudel, ou de filósofos como Jean-Paul Sartre, que descobriu o país na companhia de Jorge Amado, no início dos anos 1960. Recentemente, as cooperações científicas e tecnológicas entre o Brasil e a França incentivaram importantes realizações, particularmente no âmbito da química e da energia nuclear.  

Claude Levi-Strauss no Brasil em 1937 © musée du quai Branly

 

No entanto, o olhar dos brasileiros sobre a França não se resume à lembrança da Declaração dos Direitos do Homem, nem ao prestígio cultural da Cidade Luz. Desde o século XIX, a francofobia acompanha a francofilia das elites brasileiras, como testemunham as caricaturas satíricas publicadas na imprensa ilustrada, e muitas são as críticas a uma cultura que se limitaria a imitar o Velho Continente. Com a entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial, a celebração heroica do combate da França contra a barbárie alemã não foi uma unanimidade. Ao contrário, denunciou-se um país capaz de sacrificar um milhão e meio de seus cidadãos na lama das trincheiras em nome dos emblemas humanistas, uma França arrogante onde a pretensão ao universalismo conduziu aos desvios do colonialismo. 

 

Mãe das Artes e das Letras”, a França tornou-se igualmente conhecida por suas proprietárias de casas de rendez-vous ou cafetinas e todo prostíbulo que se prezava tinha que apresentar a seus clientes uma profissional do prazer originária de Paris – ou que parecesse ser. Ao mesmo tempo que esse “tráfico” de mulheres brancas no Brasil era severamente denunciado por diplomatas franceses, a figura da mulher fácil – imagem invertida do clichê francês da brasileira provocante – se impôs nas produções culturais brasileiras. Das dançarinas voluptuosas do Bataclan, cujas turnês são aclamadas através do país, à sensualidade de Brigitte Bardot e da modelo Laetitia Casta, passando pela figura ambígua de Joana a Francesa, personagem do filme de Carlos Diegues interpretada por Jeanne Moreau em 1973, a mulher francesa povoa o imaginário brasileiro, tornando-se até mesmo personagem de telenovelas históricas.

 

 

Imagens da França na imprensa brasileira da Belle Epoque ©FBN

 

Além do caso particular das mulheres, a cultura popular brasileira concebeu uma série de clichês, nem sempre lisonjeadores, sobre os franceses. Eles sempre são suspeitos de evitarem o banho, de terem o costume de usar perfume para esconder os maus cheiros provenientes da falta de higiene corporal, de serem pretensiosos, de fazerem negócios afrancesados ou de saírem à francesa na primeira ocasião.

 

 

O ator francês Gérard Depardieu segundo o caricaturista Fraga ©Fragadesenhos, 2008

 

A resposta ao exotismo dos brasileiros na França é o exotismo francês no Brasil, cuja ambiguidade está longe de resumir-se à simpatia artística evocada incessantemente pelas narrativas de viajantes e pela correspondência diplomática. Assim, na ocasião do Ano da França no Brasil, esse ciclo pretende explorar esse leque de representações e compreender as dinâmicas complexas que atravessam os imaginários nacionais dos dois lados do Atlântico.

 

Quatro manifestações destinadas ao grande público é à comunidade universitária fornecem pistas para se pensar essas questões e contribuem para a elaboração de um novo olhar sobre a presença francesa no Brasil. 

 

 

Rio de Janeiro, Fundação Casa Rui Barbosa, 9-12 setembro  2009

Chose de Loc ! 

Mostra de produções cinematográficas franco-brasileiras seguida por um debate com João Luiz Vieira, Tunico Amâncio e Ana Mauad. Clique aqui para consultar o programa detalhado desta manifestação http://www.casaruibarbosa.gov.br/template_01/default.asp?VID_Secao=167&VID_Materia=1581

As imagens da França no Brasil : do modelo à caricatura (séculos XIX e XX)

 

Organizado em parceria com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), este colóquio reúne pesquisadores em ciências humanas e sociais, franceses e brasileiros, especialistas no domínio dos imaginários, da representação do Outro e das trocas culturais entre os dois países. Clique aqui para consultar o programa detalhado desta manifestação http://www.casaruibarbosa.gov.br/template_01/default.asp?VID_Secao=209&VID_Materia=1582

 

 

São Paulo, Universidade MacKenzie, 15-16 setembro 2009

Entre Luzes e Sombras. A França no Brasil: modelos e contra-modelos

 

Organizado em parceria com a Universidade Mackenzie e com a Universidade de São Paulo, este evento compreende um colóquio sobre o tema dos imaginários, projeções de filmes franceses e brasileiros, bem como a apresentação de trabalhos de estudantes e pós-graduandos. Com a participação de Lília Moritz Scwarcz, Luiz Felipe de Alencastro e Antônio Sérgio Alfredo Guimarães. Clique aqui para consultar o programa detalhado desta manifestação http://www.mackenzie.br/programao0.html

 

 

Curitiba, Universidade Federal do Parana, 18 setembro 2009

Transferências Culturais : França-Brasil 

O objetivo desta jornada de estudos é reunir sociólogos e historiadores em torno da noção de transferências culturais e de seus efeitos para o estudo das relações franco-brasileiras. A mesa redonda será seguida pela projeção do filme franco-brasileiro Orfeu Negro (1959) e por um encontro musical de bossa nova.

 

 

Belo Horizonte, Sala Humberto Mauro, 26-27 setembro 2009

Chose de loc ! A volta...

 

Mostra de produções cinematográficas franco-brasileiras seguida por um debate com Vera Casanova e Marina Tavares.

Evento organizado dentro da programação oficial do Ano da França no Brasil. Com apoio do Ministério de Relações Exteriores, do Institut Universitaire de France e da École des Hautes Études en Sciences Sociales. 

 

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